Em ambas as margens do Zêzere, foram detectados vestígios de ocupação castreja: quer no Monte de Nª Srª dos Milagres (Pedrógão Grande), quer no Monte de Nª Srª da Confiança (Pedrógão Pequeno). Este local - embora nunca tenha sido escavado - é denominado como Castro de Nª Srª da Confiança, estimando-se que se estenda por 3,5 hectares e que tenha sido ocupado desde o Calcolítico (3000 a. C. a 1700 a. C.), pelo Bronze Final (até 700 a. C.), pela Idade do Ferro (700 a. C. a 100 a. C.) e provavelmente também durante o Domínio Romano (séc. II a. C. ao séc. V). Dos tempos mais antigos de ocupação ficaram testemunhos, alguns dos quais encontrados dentro dos limites de Pedrógão Pequeno. É o caso de uma enxó em quartzo.
Porém, atribui-se a fundação de Pedrógão Pequeno a um cônsul romano de nome Aulio Cursio (150 a. C.). O domínio romano deixou vários testemunhos, dos quais a antiga ponte sobre o Zêzere (cujos apoios em ambas as margens se encontram actualmente submersos, entre a Ponte filipina e a ponte do IC8) será, eventualmente, o mais importante. Mas não há ponte sem rede viária e a via que a atravessava poderia ligar Emerita Augusta (Mérida) pela Sertã a Conimbriga. Outro testemunho dessa via é o troço de ligação ao castro. E a atestar que a ocupação romana foi importante, também por aqui foi encontrada uma ara votiva (ver caixa “Estórias e Factos”).
A invasão mourisca terá atingido este território em 718 e apenas em 1110 o Conde D. Henrique procedereu à sua reconquista. Posteriormente D. Afonso Henriques (reinado: 1128-1185) doou Pedrógão Pequeno à Ordem do Templo na segunda metade do séc. XII (1165 e 1174), que lhe atribuiu carta de foral em 1174. Sancho I (reinado: 1185-1211) em 1194 doa a D. Affonso Pelagio, Prior do Hospital e a todos os irmãos da Ordem de Malta, presentes e futuros, uma terra chamada Guidintesta, vasto domínio entre o Zêzere e o Tejo, onde se inclui o domínio de Pedrógão Pequeno.
“Assim que a Ordem de S. João de Jerusalém (Ordem de Malta) tomou posse d’aquelle vasto território, tratou logo de dar as providencias necessárias para o povoar e defender; edificando o castelo de Belver; dando foraes às diferentes terras que lhe pertenciam.” (PIMENTEL, 1881) A esta época é atribuída a hipotética construção de um castelo, do qual não existem vestígios. Em 1419 Pedrógão Pequeno pertencia ao termo do concelho da Sertã e em1448 o Prior do Crato, D. Vasco de Ataíde, doa a povoação a Diogo da Silveira, escrivão de D. Afonso V. Este monarca (reinado:1438-1481) eleva a povoação à categoria de vila, com direito a pelourinho, forca e juiz próprio. O senhor da terra assumiu assim toda a jurisdição civil e criminal, rendas e foros. D. Manuel (reinado: 1495-1521) atribuiu-lhe foral novo em 1513. Por esta data terá sido edificado um novo pelourinho, que era encimado por esfera armilar. Em 1618 Pedro Nunes Tinoco, por ordem de Frei Manuel Carneiro, Prior do Crato, efectua um levantamento da vila. Nas Memórias Paroquiais de 1758 é referido que a povoação tinha 109 vizinhos, pertencia ao infante D. Pedro, como Grão-prior da Ordem do Crato.
Em 1808, durante a I invasão francesa, dá-se o saque e incêndio de várias casas pelo exército napoleónico e em 1836, na sequência da reforma administrativa de Mouzinho da Silveira, o concelho é extinto e Pedrógão Pequeno passa a freguesia do concelho da Sertã.
Um quadro do pintor de aguarelas Rui David e Silva é o único documento até agora descoberto que permite saber como era a Praça Ângelo Henriques Vidigal antes da forte intervenção urbanística realizada na vila em 1951, durante a qual foram demolidos diversos edifícios.
A origem do nome
Pedrógão topónimo frequente mas de interpretação controversa. Será originário do termo latino petroganum, talvez de origem pré-romana, que tem como este significado rocha esbranquiçada. Este aspeto relaciona-se com a geologia local por aqui ocorrer uma “ilha” de granito no extenso “mar” de xisto escuro deste território. A maior resistência do granito é observável no vale do Zêzere a jusante da barragem do Cabril. A designação compara a aldeia com outra povoação de maiores dimensões que lhe é vizinha (Pedrogão Grande). Numa das versões do “Portugalliae” de Fernando Álvaro Seco (1600) – uma das primeiras representações cartográficas da totalidade do território continental português – já encontramos o nome Pedrogão Pequeno na localização da atual povoação.
Ara votiva
Localização: Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa.
Datação: séc. I d. C.
Classificação: Encontra-se apresentada em “Religiões da Lusitânia” (Museu Nacional de Arqueologia, 2002)
No início do séc. XX esta ara encontrava-se em parede de uma casa do Roqueiro, povoação próxima, sendo muito provavelmente originária do Castro de Nª Srª da Confiança. Dali foi recolhida para o Museu Nacional de Arqueologia.
Trata-se de uma pedra granítica, paralelipipédica, com a seguinte inscrição latina:
CICERO
MANCI
NABIAE
L.V.S.
Tem a seguinte tradução: “Cícero, filho de Mâncio, cumpriu de livre vontade o voto feito à deusa Nábia”
Culto de NÁBIA
A ara votiva encontrada nas proximidades de Pedrógão Pequeno testemunha que por aqui se efectuava o culto da divindade nativa de nome NÁBIA. Outros testemunhos indicadores do culto desta divindade também foram encontrados, principalmente, no norte do País e em Espanha.
O local da forca
Quando D. Manuel I procedeu à reforma dos cerca de 750 forais antigos então existentes, já muitas povoações tinham Casa da Câmara como sede do poder executivo local e edifício para exercício do poder judicial. A Justiça possuía, então, três símbolos: o Tribunal (com cadeia), o Pelourinho e a Forca. Esta deveria estar localizada nos arrabaldes da povoação mas, intencionalmente, em local bem visível, como o topo de um outeiro. Em Pedrógão Pequeno o local escolhido para a implantação da forca foi o morro onde actualmente está o cemitério.
“Tojos e rosmaninhos”
Pedrógão Pequeno e a sua envolvente têm algumas ilustrações em “Tojos e rosmaninhos” (1907), da autoria de Alfredo Keil. O compositor de “A Portuguesa” escreveu os poemas e executou as ilustrações, aquando das suas estadias na proximidade de Ferreira do Zêzere e tendo por base as suas visitas à região.