Ao entrarmos na Cerdeira, descendo até ao pequeno regato, deparamos com o perfil desalinhado das construções. O tom dominante do xisto sobrepõe-se ao verde das encostas, ao azul do céu ou ao branco das nuvens.
Os habitantes desta e de outras aldeias deverão ter frequentado a universidade da serra. Os edifícios foram implantados sobre um morro rochoso, não ocupando as escassas áreas mais planas que dedicaram à agricultura. Uma obra de engenharia rodeou a aldeia com uma escadaria de socalcos que seguram a terra que as chuvas e a erosão levavam encosta abaixo. A implantação e a arquitetura das construções parecem ter obedecido a um plano que teve como objetivo maravilhar os visitantes no século XXI.
A Cerdeira é um local mágico. Logo à entrada, uma pequena ponte convida-nos a conhecer um punhado de casas que espreitam por entre a folhagem. Parece que atravessamos um portal para um mundo fantástico. Tudo parece perfeito neste cenário profundamente romântico. O chão de ardósia guia-nos por um caminho até uma fonte no meio de uma frondosa vegetação.
Entre encostas declivosas rasgadas por linhas de água que se precipitam lá do cimo, a Cerdeira aninha-se na mais bucólica envolvente. Esta é uma aldeia que a arte e a criatividade ajudaram a refundar. É, atualmente, um local de criação artística, através de residências artísticas internacionais, da realização de workshops de formação e de pequenas experiências criativas, em suma, um lugar para retiros criativos, de bem-estar, tirando partido da sua riqueza natural, do silêncio e de todas as infraestruturas criadas: os alojamentos, a Escola de Artes e Ofícios, os ateliers, a Biblioteca, a Galeria, o Forno comunitário, o Café da Videira e a Taberna das Artes.
Anualmente, em julho, a aldeia acolhe o festival Elementos à Solta – Art meets Nature, que reúne criadores contemporâneos de diferentes áreas e transforma a aldeia numa galeria de arte ao ar livre, com espaço para todo o tipo de expressão artística.