ONE MAN ALONE é um espetáculo a solo, literalmente a solo. Sem contracena, nem operador de luz nem som, o ator vê-se assim obrigado a prosseguir o seu espetáculo interpretando e operando ao mesmo tempo a própria luz que o ilumina e a música que acompanha a cena.
Tudo acontece numa padaria, naquelas horas da noite em que o padeiro faz pão e o resto do mundo sonha com ele. A ação desenrola-se através do jogo entre o padeiro rodeado por baguetes, papo seco, broas de milho, os seus instrumentos de trabalho e os sonhos que o fazem viajar pelo universo da imaginação e o catapultam para um mundo só seu, a altas horas da noite, e que o acompanham no amassar do pão. Talvez por uma necessidade de escape ele sonhe acordado. Talvez seja esse o fermento que faz crescer o seu pão.
Todo o espetáculo assenta no virtuoso jogo físico do ator, na capacidade de se multiplicar em várias personagens, nas várias funções do seu métier, e na sua capacidade de surpreender através dum espetáculo onde a magia é aliada da simplicidade.
O espetáculo é de alguma forma uma metáfora ao papel e à importância do artista na sociedade. Vivemos tempos austeros em que a arte é a primeira a sofrer os cortes cegos de uma política económica de desinvestimento na cultura. Os artistas, os mais afetados por essas políticas, obrigados a vaguear como saltimbancos em troco de “migalhas” que lhes permita sobreviver e prestar um serviço público.